domingo, 30 de dezembro de 2007

Notas de fim de ano

O governo central normalmente faz chantagem com as autarquias quando se trata de construir equipamentos sociais. Queres uma escola, um hospital, um quartel da GNR, um SAP? Venha de lá o terreno de borla e o estado central abrirá os cordões à bolsa.

Bem, nem em todas. Em Lisboa toca outra música. O Ministério da Saúde vai pagar o terreno que a Câmara de Lisboa cede para a construção do novo hospital. Salvo erro, 13 milhões de euros. Bem precisa a edilidade lisboeta que se encontra atolada em dívidas provocadas por um forrobodó de despesas e pelos casos de grande corrupção que por lá tiveram lugar que, entretanto, andam convenientemente esquecidos pelos media.

Anda bem Fernando Ruas ao denunciar esta dualidade de tratamento que o governo faz entre Lisboa e o resto das autarquias. Até aqui nada de novo. Todos já sabíamos que António Costa não foi de borla para a Câmara. Outras formas subreptícias de financiamento desleal se seguirão.

Estranha-se é que, por exemplo, Rui Rio se mantenha calado. A opinião da segunda mais importante autarquia do país sobre esta clara discriminação em benefício da autarquia lisboeta seria importante. Mas, como aliás já aconteceu no caso do empréstimo - onde assistimos a uma clara ultrapassagem pela direita que António Costa fez à lei de que foi autor -, do alto da Avenida dos Aliados não saiu nada de relevante. Talvez ande distraido com mais uma guerra com os cantoneiros da limpeza e respectivos sindicatos. Forte com os fracos ...

O assalto que a clique centralista e macaense do PS está a fazer ao BCP ultrapassa tudo o que se poderia imaginar. Nos EUA estas coisas dão cadeia.

Do lado da oposição também não saiu nada de brilhante, antes pelo contrário. Filipe Menezes não teve melhor ideia do que exigir que o governo nomeasse um tachista do PSD para substituir o tachista que passa directamente da CGD - o maior banco público - para o BCP - o maior banco privado e principal concorrente da CGD - sem qualquer espécie de pudor. Menezes deu um fantástico tiro no pé. O melhor que lhe ocorreu foi pedir compensações para o PSD pela vigarice que o PS se prepara para executar. Defender a privatização da CGD, ou propor o recrutamento duma nova equipa de gestão para a CGD por concurso público como o governo inglês fez para a BBC, foi coisa que nem sequer, por breves instantes, se lhe aproximou dos neurónios.

A certos figurões, por estes dias muito activos em volta do BCP e da CGD, quando lhes vierem com a boca cheia de "mercado", mandem-nos à bardamerda sem qualquer espécie de contemplações.

Pacheco Pereira não o diz mas anda assustado. Anda assustado com o fim duma casta, dum modo de vida que desde o século XVIII tem tido um mercado cativo: o opinador profissional. Alguns deles conseguiram vidas bastante confortáveis devido ao monopólio que os media tradicionais - cujo acesso era controlado e limitado - tinham sobre a publicação de opinião. Isso acabou com a Internet e mais especificamente com a blogoesfera. Compreende-se a angústia de PP.


(Por António Alves no blogue "http://norteamos.blogspot.com/" em 29-12-2007)

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