quinta-feira, 27 de setembro de 2007

REGIÃO NORTE - Porto, Braga ,Trás-os-Montes ...

Por António Alves, no blogue "http://regioes.blogspot.com/" em 16-03-2007

A região Norte tem 4 milhões de habitantes, o distrito do Porto tem mais de 2 milhões e cresce. O Grande Porto tem uma área de influência de mais de 3 milhões de habitantes.

Os trasmontanos e bracarenses que escolham. O Porto por sí só é suficiente para ser uma região autónoma. O Norte sem o Porto não sobrevive.

Esse discurso do centralismo do Porto é uma das mais bem sucedidas mentiras postas a circular pelos inimigos da regionalização. As principais vozes que se ouvem em defesa do Douro e Minho até são ligadas ao Porto. Quem tem defendido a reabilitação da Linha do Douro, do Comboio moderno para Vigo que atravessará o Minho? Quem tem berrado em defesa da indústria do Ave? Quem tem feito coro em defesa do desenvolvimento turístico do vale do Douro?

Infelizmente, tanto no Minho como no Douro não têm faltado autarcas que se vendem rapidamente por um prato de lentilhas. O fecho da Linha do Douro do Pocinho à Barca, da Linha do Corgo de Vila Real em diante, da Linha do Pocinho a Duas Igrejas, assim como a da Amarante ao Arco de Baúlhe, são exemplos eloquentes da pusilaminidade de muitos autarcas do Douro e Trás-os-Montes que trairam as suas populações por 10 reis de mel cuado.

Tenho a certeza que a maioria dos portuenses não se incomodaria se colocassem a capital noutro sítio qualquer (por mim pode ser Braga, pelo significado histórico e até devido às minhas origens familiares, mas qualquer outra me serve).

A regionalização implicará necessariamente uma outra ordem e não a cópia do pior que existe neste momento - Lisboa. Um modelo que se apoia na multipolaridade que é característica da Região Norte. Deve adoptar-se o funcionamento em rede, com as valências distribuidas. Por exemplo: transportes e economia no Porto, indústria em Braga, Cultura em Guimarães, agricultura e turísmo em Vila Real, pescas em Matosinhos. Outras hipóteses podem ser apontadas.

Aqui existem vários centros de excelência: Porto, Braga, Guimarães, Vila Real e até Aveiro se esta cidade decidir juntar-se ao Norte. Repare-se que se traçarmos um raio de 60 km com centro no Porto englobamos na sua circunferência um conjunto de grandes e dinâmicas cidades portuguesas. Por aqui não existe um eucalipto que tudo seca em volta como acontece no sul.

O peso demográfico do Grande Porto é suficiente para garantir o papel desta metrópole em qualquer modelo. Mesmo que existam tiques centralistas qual será melhor: um centralismo a 400 km de distancia e de costas voltadas para o Norte, ou um a 50/100 km e com grandes afinidades, até pela imensa mole de naturais, com o Minho, o Douro e o Vouga?

Decidam-se: para o Porto basta que a área metropolitana vote sem margem para dúvidas na regionalização que ela far-se-à pelo menos na Grande Área Metropolitana do Porto. Não haverá governo capaz de aguentar a pressão política a menos que se disponha a enfrentar uma revolta. A partir desse dia será insustentável manter o Porto na menoridade política. Quem quiser vir atrás que venha. Acabaram-se os tempos das contemporizações. A hora é de acção. Caminhemos juntos!

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Todo o burro come palha é preciso é saber dá-la...

Por Manuel Serrão, no "Jornal de Notícias" de 26-09-2007

A notícia não é de hoje, nem de ontem, nem sequer desta semana, ou do fim-de-semana passado. Não. É da semana passada. Sabendo nós, eu e os leitores, que o JN é um jornal diário que se preza de publicar notícias frescas (embora não com aquela "frescura" mais própria dos tablóides...), se aqui vos trago uma notícia da semana passada, tenho de ter uma boa explicação para os leitores e, já agora, também para os meus colegas da Redacção do jornal.

Mantendo algum suspense em relação ao conteúdo noticioso a que me refiro, gostaria de começar por sossegar todas as consciências conscientes deste meu atrevimento tenho uma boa razão (ou até muito boas razões...) para arriscar promover a publicação no JN de uma notícia com uma semana de atraso. Pelo menos.

Há quem diga que uma notícia boa, inclusive muito boa como esta, pode resistir ao tempo. Quem assim pensa nunca trabalhou num jornal diário, nem percebe nada do assunto. Para um diário de referência como o JN, a notícia só é boa quando é nova e só é publicável quando é actual. Sendo exclusiva, tanto melhor.

É por isso que sendo esta notícia que vos trago boa, inclusive muito boa, como outros já a trouxeram, deixou de ser boa para um jornal como o JN e não é portanto por isso que estou a voltar ao tema. Tema que os leitores até esta altura lamentavelmente desconhecem. Lá está, mais um atentado à nomenclatura jornalística fosse esta crónica uma notícia, em vez de ser sobre uma notícia e eu já estaria condenado por não a ter dado sinteticamente no primeiro parágrafo.

Há dias (felizmente poucos...) em que duvido se me encontro no meu juízo perfeito. Olhem, como o dia em que li esta notícia, de que já vos darei conta. Talvez por isso achei que pelo menos uma semana antes de me indignar, devia esperar para ver. Para ver se apareceria um desmentido. Para ver se outros também se tinham indignado. Para ver se, no mínimo, não sendo falsa a notícia, alguma incorrecção seria capaz de diminuir a indignação que quase me toldava o juízo.

Uma semana volvida, nada. Nada de nada. Nem um desmentido, nem uma correcção, nem uma carta, nem um postalinho... A notícia que caiu como uma bomba no meio dos meus sentidos parece ter caído como uma pena, suavemente, nas costas e nas cabeças de quem tinha obrigação de se indignar como eu me indignei.

Uma semana depois, perante a passividade geral, continua a ser verdade que o Metro Sul do Tejo custa em média 15 mil euros por dia, com cada carruagem a transportar em média 4 pessoas por viagem. Repito que são números de uma notícia que já tem uma semana. Uma semana depois, pode o custo ser maior ou já ter falecido algum dos utentes habituais...

Descontando esta tal semana a mais, os primeiros quatro meses de funcionamento do percurso Corroios-Cova da Piedade já custaram ao erário público quase dois milhões de euros. Claro que só estamos a falar dos custos de funcionamento, que a notícia era omissa no que toca a custos da construção.

Que ninguém me peça piedade num caso destes. Fosse Corroios em Gaia ou a Cova da Piedade em Matosinhos e uma semana depois esta notícia permaneceria plena de actualidade. Todos os burros comem palha...

Salários disparam em Lisboa

Por Alexandra Figueira, no "Jornal de Notícias" de 26-09-2007

No espaço de um ano, o salário médio em Lisboa aumentou 63 euros, de longe a maior subida de todo o país. Um lisboeta trabalhador por conta de outrem ganhava, no final do segundo trimestre deste ano, 937 euros, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística. No outro extremo, a região Norte, cada pessoa levava para casa 647 euros - mais 11 euros do que um ano antes. Em pior situação estão os algarvios, já que o salário médio tem mergulhado. Em doze meses, perderam 47 euros na folha de vencimentos.

As melhorias salariais devem-se aos aumentos negociados todos os anos, mas também ao perfil produtivo de cada região. Uma cidade onde a maior parte das pessoas tenham qualificações elevadas e empregos bem remunerados apresentará valores salariais médios superiores aos de outra em que o mais comum seja o trabalho pouco qualificado, cujos salários são forçosamente mais baixos. Este facto ajuda a explicar as diferenças de vencimento entre os habitantes de Lisboa e o resto do país, sobretudo atendendo a que aí se situa uma parte significativa dos funcionários públicos e dos quadros das grandes empresas, adiantou Amável Alves, dirigente da CGTP para matérias laborais.

E a capacidade de atracção de mão-de-obra qualificada por parte da capital é cada vez maior, acrescentou Couto dos Santos, vice-presidente executivo da Associação Empresarial de Portugal (AEP). "O país está cada vez mais centralizado, no que toca à tomada de decisões, ao investimento e à atracção de recursos humanos e de elites". A perda de jovens qualificados preocupa especialmente a AEP. "Os bons técnicos saídos das universidades do Norte vão trabalhar para o estrangeiro ou para Lisboa. Aqui ficam os recursos pouco qualificados", cujo salário é inferior, disse.

Se as decisões do Governo contribuem para a disparidade salarial, entende Couto dos Santos, também os líderes da região têm responsabilidade. "Não há união nenhuma, as elites estão concentradas nas suas paróquias e rapidamente se deixam levar para Lisboa e se calam".

Outra razão para a disparidade salarial entre as regiões é o desemprego. É natural que uma região com maior número de desempregados e onde seja mais difícil encontrar um lugar no mercado de trabalho tenha salários mais baixos.

O facto de haver muitas pessoas a tentar preencher os poucos empregos disponíveis diminui o poder negocial dos trabalhadores face às entidades patronais, reconheceu Amável Alves. Ora, a região Norte continua a ter a maior taxa de desemprego do país, com uma diferença de 1,5 pontos percentuais face à média nacional - a maior diferença de que há memória.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Por que não nos esquecemos

Por David Pontes, no "Jornal de Notícias" de 23-09-2007

Por muito que o Governo a tenha arrumado para o canto das promessas para a próxima legislatura, por muito que a sociedade civil se mantenha abúlica , a regionalização é um desafio que muitos dos que acreditam que perdemos por viver num país exageradamente centralizado terão dificuldade em esquecer. Até porque o exemplo galego, mesmo aqui ao lado, está sempre a mostrar-nos o quanto andamos a desperdiçar. A história que se segue é demonstrativa disso.

Na última sexta-feira, a Consellería da Cultura do Governo galego decidiu convidar os grupos de teatro e programadores do Norte de Portugal para uma reunião de trabalho, em Santiago de Compostela. Coisa que, diga-se, nunca o nosso ministério da Cultura fez. A reunião serviu como porta de entrada para uma feira em que os produtores das duas regiões serão convidados a exibir o seu trabalho a potenciais interessados e para explicar as condições que o Governo galego oferece para actuarem na região.

O que mais perturbou a comitiva nacional não foi o facto de perceber que a Galiza paga metade do cachet dos grupos portugueses que actuem lá e faz o mesmo aos galegos que venham actuar a Portugal. Também não foi o facto de perceber que a rede de salas da região está perfeitamente organizada. O que não podia deixar de suscitar discussão, foi a confissão pública dos responsáveis galegos da dificuldade de encontrar do lado de cá da fronteira interlocutores similares para estruturar o intercâmbio entre os grupos das duas regiões.

O ministério da Cultura até tem uma delegação no Norte, sedeada em Vila Real, mas como os portugueses sabem e os galegos descobriram, não passa de um escritório de burocratas, sem autonomia ou orientação própria. Restou-lhes contactar o responsável do Instituto Camões na Galiza, que com alguma boa vontade e um total desconhecimento do tecido cultural do Norte, lá tentou ajudar no que pôde.

Com histórias destas, fica fácil de perceber por que há quem tenha a a ideia fixa da regionalização.

sábado, 15 de setembro de 2007

Telefonema

Por Fernando Santos, no Jornal "O Jogo" de 15-09-2007


Nada melhor do que uma boa história de protagonistas fortes para alimentarem-se certas estratégias. Susceptíveis de abalos, no entanto, quando desmentidas por quem nelas é colocado em cena.

É o caso do caso ontem referenciado pelo "Record". Gilberto Madail, o presidente da FPF, desmentiu ter recebido no pós noite negra do Portugal-Sérvia qualquer telefonema de Pinto da Costa a pressioná-lo para correr com Scolari da Selecção e no "site" oficial do FC Porto também foi negado qualquer contacto.

Dois desmentidos assim resultam no cair por terra de pelo menos três lances no tabuleiro das congeminações.

Lance 1: sabe-se como Pinto da Costa nunca morreu de amores por Scolari e é um coleccionador de inimigos - muitos convictos, muitíssimos moldados por permanentes campanhas de intoxicação. Logo... nada melhor do que ter Pinto da Costa a favor da saída de Scolari para se reforçar o movimento dos apologistas da sua continuidade.

Lance 2. Scolari vai à sua vidinha. Estão a ver? Pinto da Costa continua a ser o mandão do futebol português e Gilberto Madail é um verbo de encher.

Lance3. Uma parte do País esquece o falhanço de Scolari, aceita o "perdoa-me", e o homem acaba por conseguir levar Portugal à fase final do Euro'2008. O estratagema é também perfeito para denegrir a imagem de Pinto da Costa. Não se consegue abatê-lo do do sucesso desportivo no FC Porto mas dá-se a imagem da sua atrapalhação quanto toca a Selecção...

À falta de melhor, qualquer uma das jogadas encaixaria, terá julgado quem urdiu a história.
Houve desmentidos?

Resta uma safa: o nome Pinto da Costa é o bastante para garantir audiências, até porque, digo eu, vive-se num tempo em que infelizmente em Portugal parece valer tudo, incluindo o jornalismo. Esse mesmo de que por vezes se queixa Pinto da Costa. E com toda a razão.

Novelas da vida real

Por Paulo Baldaia, no "Jornal de Noticías" de 15-09-2007


Como a vida não nos corre bem, optámos por viver em telenovela. No ar há vários meses, "Maddie" continua a ser a preferida dos portugueses, mas a estreia de "O sargentão" foi um sucesso, liderando no 'prime-time'.

Ainda em cena, com uma estreia auspiciosa em 2005, "O défice" saiu do 'top ten', mas é provável que em Outubro esta novela volte, temporariamente, aos primeiros lugares das audiências. Estão no ar também as novelas "O desemprego", "Saúde", "Educação", "Corrupção" e "Todos os outros crimes", mas, por agora, com audiências baixas. As novelas da vida real são como as outras. Toda a gente sabe como vão acabar.

Em primeiríssima mão, qualquer um podia escrever o final de "O sargentão". A Federação e a UEFA, cuja liderança Madaíl apoiou, aplicará um castigo "severo" de vários meses, mas que permitirá ao 'mister' orientar Portugal no Europeu - se lá chegarmos.

Os portugueses aplaudirão de pé e bandeiras nas janelas - principalmente em Lisboa - a manutenção de Scolari. Até porque o "Record" - num fabuloso exercício jornalístico - resumiu tudo a uma manchete "Pinto da Costa quer pôr Scolari na rua". Benfiquistas de todo o mundo uni-vos. Scolari tem de ficar!

É mau de mais para ser verdade. Depois da triste cena, Scolari ainda acaba comparado à padeira de Aljubarrota. Ele até só quis defender o "menino Quaresma" - qual cigano Kosovar a fugir do perigoso sérvio.

P.S. Quaresma não tem nada a ver com este filme. Só lá foi metido por um "sargentão" que acha que o general Pinochet "pode ter feito uma retaliaçãozinha aqui e ali. Mas fez mais do que não fez".

terça-feira, 11 de setembro de 2007

A língua como ferramenta do centralismo

Por Julío Silva Cunha, no blogue http://norteamos.blogspot.com/ em 21-06-2007


Existe um português padrão?Sim. O português falado e escrito na universidade de Coimbra chegou até à capital com o retorno dos estudantes recém licenciados e dos mestres que entraram nos sucessivos governos e que produziram a mais variada legislação. Essa fala universitária chegada à capital ditou a norma oral e escrita de uma língua nascida a norte.

O português falado a norte manteve durante séculos uma identidade própria. Agostinho da Silva defendia que o português falado em territórios montanhosos tinha tendência a fechar-se vocalmente, enquanto que em grandes espaços abertos, a língua lusa abria-se a uma vocalização fonética mais intensa.

Hoje em dia, a uniformização linguística é ditada pelo padrão da capital. Esta batuta provocou uma razia nos variados regionalismos linguísticos.

O problema é que o discurso vindo de Lisboa tende constantemente a ridicularizar e a ostracizar essas regionais formas de expressarmo-nos em português. Reparem que a televisão é o maior mecanismo de padronização linguística e de supressão dos regionalismos. O fenómeno é comum a países de línguas latinas - vejam o caso da Itália, onde ao toscano escrito, se sucedeu o televisivo romano e o lombardo (talvez esteja aí parte da razão de ser da conflitualidade itálica!) - mas em Portugal, o caso é preocupante e raia os foros de limpeza cultural.

Todos os programas de comédia televisiva têm como alvo de chacota linguística, o português do Porto ou o do alentejo. O primeiro é sempre ridicularizado como sendo parte da identidade de um conjunto de gente atrasada, mafiosa, provinciana, rude e ignorante. O "alentejano" é a língua dos burros e dos lerdos. As particularidades línguísticas destas regiões são alvo constante de escárnio público. O lisboeta, açoriano ou madeirense são sempre vistos de forma mais ligeira, como uma espécie de exotismo indolor. Mas a fala do norte ou alentejana têm sempre associadas figuras que denitificamos com as piores características humanas. O exotismo não é exaltado, é apenas alvo de troça e de xacota.

Esta constante colagem, "regionalismo linguístico-atraso social", induzem um "apagamento" e um auto-condicionamento cultural dos habitantes dessas regiões. Ninguém quer ser identificado com a vilania, a ignorância e o atraso. "Falar como a capital", é falar como os vencedores!

O regionalismo linguístico tem sido um alvo deliberado da comédia lusa. As televisões fomentam essa atitude, e sendo este meio comunicacional, o mais influente, não é de admirar que toda uma mundividência linguístico-cultural venha a desaparecer. É um património cultural que se perde por força do centralismo mediático.

Nota: Quer as televisões estatais quer as privadas, todas elas têm sede na capital. As televisões usaram vários "pivots" nortenhos. Todos eles tiveram que utilizar o padrão linguístico da capital para se poderem impôr!

Insuportável

Por Rui Moreira, no jornal "O Publíco" de 2-09-2007


A portofobia não é um mal recente. O meu avô materno, que nasceu alfacinha mas adorava a nossa cidade, dizia que quando descia à capital e ouvia algum "lisboeta" a zombar do Porto, sabia logo que estava na presença de alguém que nascera na província. Esse complexo de superioridade dos deslumbrados que tentavam ser "mais papistas do que o Papa" para serem aceites nos salões da sociedade lisboeta era desforrado no Porto com desdém ou com a correspondente lisbofobia.Hoje, a portofobia alastrou para além das fronteiras da capital. Agora, e para lá da conhecida aversão ao FC Porto, até a inofensiva Fundação de Serralves começa a inspirar grandes alergias. Já se conhecia a soberba e a inveja de alguns críticos de arte que preferiam ir a Santiago do que passar pelo Porto, mas faltava conhecer ainda a versão oficial desse sentimento. Esse momento solene ocorreu na inauguração do Museu Berardo, onde, inspirado certamente pelo seu assessor cultural (porque não posso acreditar que a ministra da Cultura já esteja convertida e "aculturada" às modas da capital), o primeiro-ministro exclamou, extasiado: "Antes, o roteiro da arte contemporânea acabava em Madrid. A partir de hoje, começa aqui".

A portofobia transformou-se, pois, num fenómeno de intolerância com cunho oficial, partilhado pela gente bem e culta de Lisboa que exercita o seu narcisismo pretensioso e parolo falando dos horrores do Porto, pelo frequentador anónimo dos fóruns radiofónicos que acha que todo o "mal vem lá de cima", pelo bloguista maledicente que acha que o Porto é uma tragédia e pelo taxista da Lourinhã que odeia as vitórias do FC Porto. Com esta democratização da repulsa, tornou-se também politicamente correcto correlacionar algumas das características que nos são atribuídas com os piores arquétipos. Alguns dos grandes escribas do regime, transformados em sacerdotes do opinião, já nem sequer fazem cerimónias e imputam-nos todas as culpas pelos nossos males e pelo estado da Nação: a crise da economia tem como origem a falta de visão dos industriais nortenhos que exploraram a mão-de-obra barata e até o trabalho infantil e os infames empresários têxteis que compraram Lamborghinis em vez de máquinas; a corrupção tem o seu maior expoente nos construtores civis nortenhos, nos caciques que controlam as autarquias "lá do Norte" e nos clubes de futebol, de que o FC Porto é o expoente máximo porque nunca teria ganho campeonatos se não recorresse a todas as batotas.

Com todas as televisões concentradas em Lisboa, o Porto acaba por só ser notícia pelas piores razões e, se porventura algum de nós reclama, aparece logo o mais eficientes dos antídotos: alguém que finge simpatizar com o Norte ou que se confessa adepto de um dos nossos clubes, para explicar com ar contristado que os nortenhos são uma espécie de gauleses, gente simpática mas que nunca se entende. Os efeitos dessas ladainhas vão-se entranhando e, de certa forma, o povo do Norte, de que os tripeiros são o espécime mais conhecido, substituiu os alentejanos como vítimas favoritas do anedotário nacional. Claro que ninguém que gosta do humor de qualidade, neste país de tristes, se esquece do saudoso Estebes, mas a moda de ridicularizar o nosso sotaque já invadiu a publicidade, onde não aparece um burgesso que não fale à moda do Porto. Será que é normal que uma marca de automóveis os resolva promover através de graçolas de mau gosto em que se achincalha a nossa maneira de falar? Em Espanha, não se atreveriam a ridicularizar um dos dialectos ou idiomas regionais, com medo das represálias do mercado. Os nuestros hermanos não são para brincadeiras e quando o Governo da Catalunha recomendou aos seus cidadãos que evitassem o aeroporto de Madrid nas suas ligações aéreas, os madrilenos ripostaram boicotando a cava catalã. Talvez seja altura de começarmos a ser bairristas no consumo, penalizando as empresas que nos desconsideram, que deslocalizam competências para Lisboa. Talvez seja esse o último instrumento de pressão que nos resta.

Selecção avessa à província

Por Almiro Ferreira, no "Jornal de Noticías" de 7-09-2007


A selecção nacional de futebol parece ser alérgica aos ares da província. Entre 53 jogos oficiais realizados em solo português nos últimos 20 anos, o Portugal-Sérvia da próxima quarta-feira será "só" o 27.º na capital. E o Clube Portugal, assim baptizado nos últimos anos, para celebrar a reconciliação nacional com a "equipa de todos nós", até têm agravado a histórica tendência para a centralização do país futebolístico. O encontro com os sérvios será, também, o décimo desafio oficial, entre os 17 da era Scolari, marcado para Lisboa. Ali foram já disputados todos os jogos mais apelativos do Euro 2004, da fase de qualificação para o Mundial 2006 e para o Euro 2008.A Polónia e a Sérvia seguem a ordem vigente.

Tudo não passaria de uma questão de "ciumeira" se, afinal, não se verificasse que, além do prestígio, outros valores se alevantam o clube que cede o estádio leva 10% da receita de bilheteira e até pode acumular o gozo supremo de a selecção ser composta, exclusivamente, por jogadores de um rival...

Percorrendo-se a lista dos jogos oficiais da selecção disputados em Portugal nos últimos 20 anos, observa-se que, até 2003, 17 jogos tinham sido realizados em Lisboa e 14 no Porto. No mesmo período, apenas cinco desafios fugiram à força aglutinadora das duas maiores cidades. Dois encontros foram realizados no Funchal e outros três em Setúbal, Guimarães e Coimbra, mas sempre com equipas menores.

Com a organização do Euro 2004 e a construção ou reconstrução de diversos estádios na província, esperava-se que a selecção pudesse ser mais itinerante, mas o que se verifica é a crescente centralização em Lisboa. A capital banqueteou-se com o "filet mignon" e deu os restos à "paisagem". Porto, Aveiro, Coimbra, Leiria e Faro/Loulé, com estádios novinhos em folha, levaram com cartazes de selecções de quinta divisão, do Azerbeijão à Estónia, do Luxemburgo ao Cazaquistão.

Nos últimos 20 anos, o Minho, uma das regiões do país com maior densidade geográfica, só viu a selecção num jogo a sério, em Março de 1999, com o... Azerbaijão. Guimarães, onde mora uma das mais fervorosas falanges de adeptos, a do Vitória, só voltou a ter jogos da selecção num particular de má memória para a equipa de Scolari (0-3, com a Espanha, em Setembro de 2003). E Braga? Nem um joguinho oficial para amostra. Desde 1987, a selecção foi lá seis vezes, mas sempre em jogos a feijões. E Barcelos contentou-se com um amistoso, em Março de 2005 (4-1 ao Canadá).

Mesmo nestes particulares (43, desde 1987), foi Lisboa quem mais vezes viu a selecção ao vivo, em nove ocasiões. Braga (seis jogos), Porto (4), Faro (4), Setúbal (3) vêm logo a seguir. Leiria, Coimbra, Ponta Delgada e Chaves receberam dois amigáveis da selecção, que se dignou visitar o Alentejo em duas ocasiões (Portalegre e Évora). Viseu, que ficou fora do Euro-2004, viu a selecção uma única vez (5-1 à Lituânia, em 2000), assim como Torres Novas, Maia e Águeda.

A concentração da maioria dos jogos em Lisboa origina, ainda, outra disparidade, com lucro para os clubes da capital que cedem os estádios. Segundo Amândio de Carvalho, vice-presidente da Federação Portuguesa de Futebol, 10% da receita de bilheteira vai para os donos dos recintos. Em estádios com o de Alvalade ou da Luz, Sporting e Benfica nunca encaixam menos de 100 mil euros com os jogos das selecções. Isto sem contar com os lugares VIP e de camarote, que, ainda de acordo com Amândio de Carvalho, podem ser negociados pelos clube, controlo nem fiscalização da FPF. O Sporting, por exemplo, tem camarotes (22 lugares) à venda por 4510 euros para o jogo com a Sérvia.

A RTP e Nuno Santos

De Rui Valente, no blogue "A Baixa do Porto" (http://www.porto.taf.net/) em 5-09-2007


Mostra-se-lhes o dedo e levam-nos o braço! Nada original, mas muito típico nos meninos que hoje mandam nas televisões lisboetas - perdão -, queria dizer nacionais.

O melhor indicador da disfuncionalidade da Justiça portuguesa está precisamente na inocuidade da sua intervenção face aos crescentes abusos da liberdade de expressão levada a cabo pelas televisões centralistas lisboetas. Protegidas por um álibi indestronável como é o da badalada "liberdade de informar", as televisões, e muito em particular a RTP, gastam mais de metade do tempo a desinformar e a manipular a opinião pública de forma expressa, sem que nenhuma autoridade judicial tenha a coragem de lhes dizer que até a liberdade tem limites. Não é por acaso que lhes chamam o 4º.Poder. Desleal, criminoso, sim, mas um Poder. Por isso, não admira que altos responsáveis por essas empresas de "comunicação", nomeadamente do Estado, como é o caso da RTP, já nem percam muito tempo a consumir os neurónios para apresentar ao consumidor portuense (que também lhes alimenta a boca e a carteira) uma argumentação minimamente aceitável para algumas acções mais polémicas.

A última,surge-nos pela mão do seu director de programas, Nuno Santos, que, para não se sentir deslocado com este já longo e contagiante Tsunami de desprezo dedicado ao Porto, resolve deslocar para Lisboa a pequena côdea de produção regional que por cá se fazia, como era o caso do programa "Portugal no Coração". Com ele, serão também deslocadas - e (ou) despedidas - algumas dezenas de colaboradores residentes sem dó nem piedade, como sucedeu com a NTV. Nuno Santos,dá-nos porém esta singela explicação: "para o espectador (só podia estar a pensar no espectador lisboeta), é indiferente onde é feito o 'Portugal no Coração!"...

Eu gostava muito de perguntar cara a cara ao menino Nuno Santos e aos seus comparsas centralistas se - para variar - lhes seria igualmente indiferente inverterem a lógica centralista e monopolista do poder mediático para o Porto e deixar para a capital umas migalhinhas do estilo "Portugal no Coração". Que tal, menino Nuno Santos? Aceitaria, sem mais "mas" nem "porquês"? Ficaria indiferente?

Como é possível que tamanha hipocrisia e tanta falta de nacionalismo continue a ser usada como bitola para o mérito? Será que o Saramago perdeu mesmo a razão??? Será???

Rui Valente

Faroeste, Dupla Ética e Xenofobia

Por Pedro Menezes Simões, no blogue "A Baixa do Porto" (http://www.porto.taf.net/) em 4-09-2007


Quase todos os meses víamos notícias sobre mortes e violência na noite de Lisboa. Recentemente o fenómeno chegou ao Porto, com várias mortes nos últimos meses. Curiosamente, o Porto foi rapidamente comparado à Chicago de Al Capone, os arautos do costume falaram em máfias, e repisou-se o novo estereótipo que querem impor aos tripeiros, uma verdadeira pentalogia do crime: Futebol, Câmaras municipais, Negócios da noite, Ministério Público, e Polícia.

Se há algo que salta à vista é a dupla ética dos meios de comunicação social. A violência habitual em Lisboa é tratada como uma coisa típica de uma grande metrópole, própria do desenvolvimento. A violência esporádica (pois não é habitual) no Porto, muito menor que em Lisboa, é tratada como uma coisa siciliana, própria de uma região sub-desenvolvida povoada por gente mafiosa. Obviamente que isto são ideias que só poderiam vir de mentes peregrinas que vivem noutro mundo. As discotecas são um negócio excelente para lavar dinheiro (alguém passa factura?). A consequência é simples: tendem a ser dominadas pelo sub-mundo do crime. Mas os "iluminados" pensam que isso só acontece na terra dos outros. Hoje, pelos vistos (infelizmente), os problemas com seguranças de discotecas voltaram a acontecer. Desta vez em Lisboa. Pergunto-me então se somos todos metrópole ou Sicília. Uma coisa é certa. Os arautos do costume não se atreverão a comparar a capital com Chicago, nem a falar de máfias a controlar a noite.

Por vezes pergunto-me se as gentes do Norte conseguem perceber a discriminação que sofrem nos meios de comunicação social (ainda por cima nos públicos, pagos por todos nós). Encontrei a resposta na leitura destes comentários. Os nortenhos não andam a dormir. Recordo-me ainda do ex-ministro Fernando Gomes (e ex-presidente da CMPorto). Foi completamente perseguido pela imprensa por duas razões: por dispensar os cerca de 40 assessores de imprensa (grande poupança de custos) e por ser do Porto (e do FCP). A criminalidade não subiu, mas as notícias de crimes (sempre na linha de Sintra) não pararam enquanto ele não foi "remodelado". Até a Lídia Franco veio para os telejornais dizer que achava que a tinham querido violar. A linha de Sintra ainda lá está, e a Lídia Franco continua... Mas agora surgiu uma nova onda de crime, que percorre as duas maiores cidades portuguesas. Começou desde que o Ministro Rui Pereira tomou posse. Pela mesma razão, os Media já deveriam estar a pedir a sua cabeça. Ah, mas falta a outra razão: ele não é do FCP...

Não sou ingénuo: a culpa não é dos lisboetas. É dos imbecis preconceituosos (e que sofrem de futebolite) que dominam a comunicação social. Ainda assim, confesso que por vezes me dói a alma de viver num país onde a xenofobia entre portugueses é tão impune, e onde a política tem mais em conta o futebol do que a justiça e o bem estar das populações.

Pedro Menezes Simões