quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Todo o burro come palha é preciso é saber dá-la...

Por Manuel Serrão, no "Jornal de Notícias" de 26-09-2007

A notícia não é de hoje, nem de ontem, nem sequer desta semana, ou do fim-de-semana passado. Não. É da semana passada. Sabendo nós, eu e os leitores, que o JN é um jornal diário que se preza de publicar notícias frescas (embora não com aquela "frescura" mais própria dos tablóides...), se aqui vos trago uma notícia da semana passada, tenho de ter uma boa explicação para os leitores e, já agora, também para os meus colegas da Redacção do jornal.

Mantendo algum suspense em relação ao conteúdo noticioso a que me refiro, gostaria de começar por sossegar todas as consciências conscientes deste meu atrevimento tenho uma boa razão (ou até muito boas razões...) para arriscar promover a publicação no JN de uma notícia com uma semana de atraso. Pelo menos.

Há quem diga que uma notícia boa, inclusive muito boa como esta, pode resistir ao tempo. Quem assim pensa nunca trabalhou num jornal diário, nem percebe nada do assunto. Para um diário de referência como o JN, a notícia só é boa quando é nova e só é publicável quando é actual. Sendo exclusiva, tanto melhor.

É por isso que sendo esta notícia que vos trago boa, inclusive muito boa, como outros já a trouxeram, deixou de ser boa para um jornal como o JN e não é portanto por isso que estou a voltar ao tema. Tema que os leitores até esta altura lamentavelmente desconhecem. Lá está, mais um atentado à nomenclatura jornalística fosse esta crónica uma notícia, em vez de ser sobre uma notícia e eu já estaria condenado por não a ter dado sinteticamente no primeiro parágrafo.

Há dias (felizmente poucos...) em que duvido se me encontro no meu juízo perfeito. Olhem, como o dia em que li esta notícia, de que já vos darei conta. Talvez por isso achei que pelo menos uma semana antes de me indignar, devia esperar para ver. Para ver se apareceria um desmentido. Para ver se outros também se tinham indignado. Para ver se, no mínimo, não sendo falsa a notícia, alguma incorrecção seria capaz de diminuir a indignação que quase me toldava o juízo.

Uma semana volvida, nada. Nada de nada. Nem um desmentido, nem uma correcção, nem uma carta, nem um postalinho... A notícia que caiu como uma bomba no meio dos meus sentidos parece ter caído como uma pena, suavemente, nas costas e nas cabeças de quem tinha obrigação de se indignar como eu me indignei.

Uma semana depois, perante a passividade geral, continua a ser verdade que o Metro Sul do Tejo custa em média 15 mil euros por dia, com cada carruagem a transportar em média 4 pessoas por viagem. Repito que são números de uma notícia que já tem uma semana. Uma semana depois, pode o custo ser maior ou já ter falecido algum dos utentes habituais...

Descontando esta tal semana a mais, os primeiros quatro meses de funcionamento do percurso Corroios-Cova da Piedade já custaram ao erário público quase dois milhões de euros. Claro que só estamos a falar dos custos de funcionamento, que a notícia era omissa no que toca a custos da construção.

Que ninguém me peça piedade num caso destes. Fosse Corroios em Gaia ou a Cova da Piedade em Matosinhos e uma semana depois esta notícia permaneceria plena de actualidade. Todos os burros comem palha...

Sem comentários: