Por David Pontes, no "Jornal de Notícias" de 23-09-2007
Por muito que o Governo a tenha arrumado para o canto das promessas para a próxima legislatura, por muito que a sociedade civil se mantenha abúlica , a regionalização é um desafio que muitos dos que acreditam que perdemos por viver num país exageradamente centralizado terão dificuldade em esquecer. Até porque o exemplo galego, mesmo aqui ao lado, está sempre a mostrar-nos o quanto andamos a desperdiçar. A história que se segue é demonstrativa disso.
Na última sexta-feira, a Consellería da Cultura do Governo galego decidiu convidar os grupos de teatro e programadores do Norte de Portugal para uma reunião de trabalho, em Santiago de Compostela. Coisa que, diga-se, nunca o nosso ministério da Cultura fez. A reunião serviu como porta de entrada para uma feira em que os produtores das duas regiões serão convidados a exibir o seu trabalho a potenciais interessados e para explicar as condições que o Governo galego oferece para actuarem na região.
O que mais perturbou a comitiva nacional não foi o facto de perceber que a Galiza paga metade do cachet dos grupos portugueses que actuem lá e faz o mesmo aos galegos que venham actuar a Portugal. Também não foi o facto de perceber que a rede de salas da região está perfeitamente organizada. O que não podia deixar de suscitar discussão, foi a confissão pública dos responsáveis galegos da dificuldade de encontrar do lado de cá da fronteira interlocutores similares para estruturar o intercâmbio entre os grupos das duas regiões.
O ministério da Cultura até tem uma delegação no Norte, sedeada em Vila Real, mas como os portugueses sabem e os galegos descobriram, não passa de um escritório de burocratas, sem autonomia ou orientação própria. Restou-lhes contactar o responsável do Instituto Camões na Galiza, que com alguma boa vontade e um total desconhecimento do tecido cultural do Norte, lá tentou ajudar no que pôde.
Com histórias destas, fica fácil de perceber por que há quem tenha a a ideia fixa da regionalização.
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