quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Circular de metro

triporto: as alterações ao tipo de letra são da minha autoria...


É na verdade uma espécie de ovo de Colombo. Olhando para o mapa que mostra os nove quilómetros de traçado da "linha circular" do metro do Porto percebe-se que nem são necessários estudos - valeria cada um dos seus 180 milhões de euros. Aliás, a estimativa de quem a projectou aponta para uma duplicação do número de viagens diárias, de 200 mil (actuais) para 400 mil, se ela se viesse a concretizar.

Percebe-se porquê. Por ser totalmente subterrânea, o que lhe permite uma velocidade muito mais elevada. Por multiplicar os percursos possíveis dentro da cidade, servindo quem cá vive e quem vem de fora. Por cruzar-se com as outras linhas em pontos nevrálgicos da rede actual Casa da Música, S. Bento, Campanhã e Pólo Universitário. Por criar mais estações que servem as populações das três freguesias mais populosas da cidade: Campanhã, Paranhos e Ramalde.

Mas se o seu interesse parece óbvio, teme-se que a sua concretização não deixe de se transformar no folhetim habitual. O Estado centralista em que vivemos e os seus moços de recados (ministros e secretários de Estado) rapidamente deixarão claro que estamos em tempo de contenção de despesas. "Sem fechar a porta", expressão banal, mas sempre útil nestas ocasiões. Até porque ainda é preciso pagar a factura de 300 milhões de euros pelos dois quilómetros de linha do metro da capital, entre a Baixa-Chiado e Santa Apolónia.

Da mesma forma, e se se cumprir a tradição, os responsáveis políticos metropolitanos hão-de tardar em pôr-se de acordo. Até porque desta vez é uma linha que toca apenas num dos quintais. Aliás, não deixa de ser sintomático saber que os líderes de duas das principais autarquias da Área Metropolitana - Porto e Gaia -, quando confrontados com a notícia, se tenham limitado a manifestar desconforto pelo facto do projecto ter chegado, sem a sua autorização, à opinião pública. Sobre a importância da linha nem uma palavrinha.

Esperemos que alguém force um pouco a nota política, amanhã, no debate técnico marcado para a Faculdade de Engenharia do Porto. E em que, mais do que uma linha circular, se vai começar a definir o futuro da mobilidade desta imensa metrópole.


PS - Sim, leu bem. A linha circular projectada para o Porto tem um custo estimado de 180 milhões de euros, o que significa 20 milhões de euros por quilómetro, enquanto dois quilómetros de linha subterrânea em Lisboa custaram 300 milhões de euros, ou seja 150 milhões por quilómetro!



(Por Rafael Barbosa no "Jornal de Notícias" em 11-12-2007)

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