Na gíria chamam-lhes "bobbies". O nome técnico, creio, é "trolley". São aquelas malas, de vários tamanhos, com rodas, que os viajantes arrastam atrás de si (pensando bem, como costumam ser os donos a ir arrastados atrás dos cãezinhos, se calhar a figura do "bobby" não é muito bem conseguida
). Trata-se de uma invenção óbvia, que aliviou as costas e a coluna de muito boa gente. Aeroportos e estações de caminho-de-ferro são os lugares em que é possível vê-las com mais frequência, nomeadamente nos inícios e finais de semana. Evidenciam a mobilidade e a imobilidade. Que se trabalha num, ou se vai a algum, lugar longe daquele a que chamamos "casa", onde, contudo, esperamos regressar. Levamos umas "mudas", enquanto o fundamental fica. E levamos, também, computadores, livros e papéis, elementos materiais, omnipresentes numa sociedade que se diz cada vez mais do conhecimento e do imaterial.
Se formos à estação de Campanhã ou ao aeroporto Sá Carneiro, numa sexta-feira de tarde, veremos um trânsito intenso desses equipamentos. Gente que chega e gente que parte. Esqueçamos os turistas óbvios e fixemo-nos naqueles que, pela sua forma de vestir ou de agir, fazem a viagem por razões profissionais. Verificaremos que são muitos mais os que chegam do que os que partem. Há mais gente da área metropolitana do Porto que trabalha fora, e usa estes meios de transporte, do que o contrário. Façamos este exercício no domingo à noite, ou na segunda-feira de manhã, e a conclusão é a mesma, havendo, nesse caso, mais gente a partir do que a chegar (repete-se, gente arrastando atrás de si os tais "trolleys").
Chegam de onde e partem para onde? Aparentemente, é mais fácil responder à primeira do que à segunda questão! Chegam, principalmente, de Lisboa. Mas partem, frequentemente, para outros destinos que não Lisboa, sobretudo no caso do transporte aéreo. A solução do aparente paradoxo é óbvia Lisboa, mesmo quando não é destino final, é destino fatal. É preciso ir (por) lá, para ir a algum lado. Nas viagens como na profissão.
A disponibilidade para a mobilidade, para estar cá e lá, para ir ao fim do mundo como se vai ao fim da rua, faz parte do ADN do mundo de negócios contemporâneo. Uma região com recursos humanos com essas características está bem apetrechada para fazer face aos desafios económicos, os actuais e os previsíveis. Se, um "se" muito grande, simultaneamente for capaz de manter e gerar centros de competência e decisão capazes de articular essas capacidades e de as pôr ao serviço do bem-estar da região. Se assim não for, a região não passará de um mero fornecedor de mão-de-obra barata, igual a tantos países de emigrantes com um futuro permanentemente adiado. Se assim não for, os "trolleys", que circulam nos aeroportos e estações de caminho-de-ferro, serão meros sinais exteriores da incapacidade da região para fixar os seus melhores quadros ou de atrair outros provenientes de outros espaços. Não será, se tomado literalmente, um sinal exterior de pobreza. Mas é, certamente, um sinal de pobreza de alternativas que força a saída e repele os seus melhores.
(Por Alberto Castro no "Jornal de Notícias" em 13-11-2007)
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