terça-feira, 13 de novembro de 2007

A propósito da bela princesa Zinaida Iussupova

Aproveitei o fim-de-semana para ir ver a exposição do Hermitage sobre a arte e cultura nos dois séculos dos Romanov. Dei o tempo por muito bem empregue.

Sai do Palácio da Ajuda hipnotizado pelo intensidade do olhar e pela desarmante e calma beleza da princesa Zinaida Iussupova, retratada por François Flameng, e convencido de que é boa a ideia da ministra da Cultura de instalar no nosso pais um pólo permanente do mais famoso dos museus russos, o Hermitage de S. Petersburgo.

Os museus representam nos tempos modernos o mesmo que as catedrais na Idade Média. São templos de culto, lugares de peregrinação, ícones de afirmação do orgulho das cidades.

E, nesta era da globalização, as marcas mundialmente reconhecidas e admiradas possuem uma enorme capacidade de atracção, como ficou demonstrado pelo estrondoso sucesso que o Guggenheim de Bilbau alcançou ao repetir a fórmula de sucesso que celebrizou o seu pai nova-iorquino. A saber, arte contemporânea enroupada por uma marca prestigiada e embalada por uma espectacular peça de arquitectura.

Há uma dúzia de anos não passava pela cabeça de ninguém ir passar um fim-de-semana a Bilbau. O Guggenheim foi a poderosa alavanca que colocou a cidade basca no mapa dos destinos turísticos europeus.

Apesar de essa não ser a opinião do «mainstream» português, que inveja os fundos que vão alocados a esse projecto, acho boa a ideia de Isabel Pires de Lima.

Já não acho boa a ideia do Governo de âncorar em Lisboa o pólo permanente do Hermitage em Portugal.

A Gulbenkian e a Colecção Berardo já são suficientemente atraentes para satisfazer os turistas, no segmento arte contemporânea, complementando a boa e variada oferta museológica de Lisboa, onde avultam pesos pesados, como o Museu Nacional de Arte Antiga ou o dos Coches, e pequenos museus de charme e nicho, como o Museu do Azulejo ou a Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva.

O exemplo do bom senso do Governo de Madrid, que escolheu Barcelona para receber os Jogos Olímpicos, Sevilha para a Expo e Bilbau para o Guggenheim deve iluminar o Governo de Lisboa na hora de escolher onde instalar o Hermitage.

Não estou a pedinchar para o Porto o pólo do museu russo. Com Serralves, o Soares Reis e pequenas jóias como o Museu Romântico, a minha cidade está razoavelmente servida neste domínio.

Na incursão a Lisboa para ver a exposição da Ajuda, fiz uma escala nas Caldas da Rainha. E fiquei a pensar que a instalação na cidade de Bordalo do pólo português do museu russo seria um óptimo pretexto para recuperar os magníficos (e degradados) Pavilhões do Parque D. Carlos I. E que melhor companhia se poderia arranjar para o Hermitage do que o Museu José Malhoa?

As Caldas são uma ideia. Mas também pode ser Coimbra, Santarém, Guimarães, Beja, Bragança, Aveiro, Lagos, Évora, Viseu, Tomar ...

O que estou a pedir ao Governo é que deixe de teimar em meter os ovos todos no mesmo cesto (que ainda para mais está roto) e que no momento de decidir onde vai ficar o Hermitage não olhe para o mapa de Lisboa - mas sim para o do Portugal.


(Por Jorge Fiel no blogue "http://bussola.blogs.sapo.pt/" em 13-11-2007

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