O presidente da Câmara do Porto acha que o Governo não trata com o devido cuidado o dossiê "metro do Porto". Acha bem. Os exemplos abundam. E as comparações com projectos de igual, ou mesmo menor, importância que o Executivo acarinha em Lisboa são igualmente reveladoras de como, quando se trata do metro do Porto, tudo é visto "ao milímetro", para citar Rui Rio na entrevista que concedeu ao JN.
Rio lembra os milhões que o novo aeroporto há-de consumir. Recorda que, quando se discute a próxima travessia sobre o Tejo, não se fala em números, apenas na localização. E relembra o novo amor de Sócrates - a frente ribeira de Lisboa, onde serão gastos 400 milhões de euros, mesmo que o projecto levante dúvidas à autarquia lisboeta.
A estes exemplos poderiam somar-se muitos outros. Como o do Metropolitano de Lisboa, que, apesar de ser mais caro e pior gerido, recebeu uma indemnização compensatória dez vezes superior à entregue à Metro do Porto.
Lições a tirar daqui? O Governo continua a olhar para o Porto e para o Norte com a distância que o centralismo impõe e favorece. E o Porto e o Norte continuam a usar falinhas mansas, quando se trata de explicar o óbvio o desprezo está a empurrar a região para o abismo.
Elisa Ferreira lembrava ontem no JN um facto que ajuda a explicar este estado de coisas. A propósito da comparação que fazia entre o Norte e a Galiza (o rendimento médio de um nortenho é 65% do de um galego), a eurodeputada tocou no ponto na Galiza, feito o diagnóstico do problema, avança-se para a decisão. No Norte, enviam-se relatórios muito competentes para Lisboa. E aguarda-se que, num dia de sol, algum ministro mais bem disposto os leia.
É trágico. Mas é verdade.
(Por Paulo Ferreira no "Jornal de Notícias" em 5-05-2008)
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