segunda-feira, 5 de maio de 2008

Falinhas mansas

O presidente da Câmara do Porto acha que o Governo não trata com o devido cuidado o dossiê "metro do Porto". Acha bem. Os exemplos abundam. E as comparações com projectos de igual, ou mesmo menor, importância que o Executivo acarinha em Lisboa são igualmente reveladoras de como, quando se trata do metro do Porto, tudo é visto "ao milímetro", para citar Rui Rio na entrevista que concedeu ao JN.

Rio lembra os milhões que o novo aeroporto há-de consumir. Recorda que, quando se discute a próxima travessia sobre o Tejo, não se fala em números, apenas na localização. E relembra o novo amor de Sócrates - a frente ribeira de Lisboa, onde serão gastos 400 milhões de euros, mesmo que o projecto levante dúvidas à autarquia lisboeta.

A estes exemplos poderiam somar-se muitos outros. Como o do Metropolitano de Lisboa, que, apesar de ser mais caro e pior gerido, recebeu uma indemnização compensatória dez vezes superior à entregue à Metro do Porto.

Lições a tirar daqui? O Governo continua a olhar para o Porto e para o Norte com a distância que o centralismo impõe e favorece. E o Porto e o Norte continuam a usar falinhas mansas, quando se trata de explicar o óbvio o desprezo está a empurrar a região para o abismo.

Elisa Ferreira lembrava ontem no JN um facto que ajuda a explicar este estado de coisas. A propósito da comparação que fazia entre o Norte e a Galiza (o rendimento médio de um nortenho é 65% do de um galego), a eurodeputada tocou no ponto na Galiza, feito o diagnóstico do problema, avança-se para a decisão. No Norte, enviam-se relatórios muito competentes para Lisboa. E aguarda-se que, num dia de sol, algum ministro mais bem disposto os leia.

É trágico. Mas é verdade.


(Por Paulo Ferreira no " Jornal de Notícias" em 5-05-2008)

3 comentários:

Anónimo disse...

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A dois dias de terminar o campeonato de 2007/08, os argumentistas do Apito Final conseguiram o impensável. Agradar a Gregos e a Troianos. Nem em novelas se idealizam finais tão perfeitos. Senão vejamos.

1. A nação benfiquista regozija

E consegue finalmente alguma alegria numa época tão cinzenta. Afinal Portugal é um país justo. O Pinto da Costa é corrupto.

Não interessa que os tribunais civis decidam o contrário. Não interessa que mesmo a própria justiça desportiva o venha a ilibar no futuro. O que interessa é agora e o agora está muito necessitado de boas novidades, mesmo que estas nada tenham a ver com o Benfica.

2. O FC Porto aceita sereno a retirada de 6 pontos

Numa época em que a retirada de pontos é indiferente seria contraproducente recorrer dentro dos controlados orgãos desportivos que temos. O verdadeiro recurso teria de ser levado para tribunais civis irritando a UEFA e colocando o futebol português em risco de retaliações. E aqui sim o FC Porto seria o clube mais prejudicado. Nem clube nem adeptos conseguem já imaginar o que é não participar na competição que junta anualmente os 32 clubes mais fortes da Europa.

Não recorrer é a decisão mais inteligente para o clube.
Não recorrer é a decisão que não compromete nem o presente nem o futuro.

3. SAD portista mantém a confiança no Pinto da Costa

Outra coisa não seria de esperar. As SAD visam a maximização do lucro e esta decisão é soberba. Não só não se feriram os interesses da SAD como se eliminou a incerteza que pairava sobre as acções.

O pior que existe para as acções de uma empresa cotada em bolsa é a incerteza. Como dizia um meu professor, "para o papel cotado, mais vale um adversidade consumada hoje do que um potencial mal menor amanhã". Neste caso, nem adversidade hoje nem incerteza amanhã. É mesmo expectável que se venha a assistir a uma valorização das acções no curto prazo.

4. E finalmente, Pinto da Costa livre para defender o seu nome

Como dirigente desportivo, nada mudou. Se alguém tinha dúvidas, o seu "não vamos mudar por nada, a gestão do clube em nada será alterada" dá uma pista sobre quem continuará a gerir o clube.

Mas com muito mais alcance e deveras muito mais importante, como cidadão, Pinto da Costa pode levar o recurso a qualquer tribunal sem colocar em risco o clube.

Aqui reside a força do FC Porto. O seu presidente chamou a si a defesa do nome do FC Porto com total liberdade para a defender fora do eixo viciado da LPFP e com o clube a salvo de qualquer retaliação.

Não é fácil ser o personagem principal de todos os Apitos à excepção do encarnado - principal não porque seja o mais visado nos processos, não porque tenha efectivamente corrompido o sistema, mas porque matou "o sistema" e instituiu um novo status quo com o "Glorioso" o "Grande", etc. arredado da ribalta. Mas mais uma vez Pinto da Costa provou ser um exímio estrategista.

Nem mesmo os intelectuais da bola viram esta a chegar!
Este desfecho só pode ter sido combinado.

IN FUTEBOLAR

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Asdrúbal Costa disse...

Boas!

Agradeço o seu comentário e fico feliz por saber que há mais pessoas que se começam a levantar e a revoltar contra este centralismo nojento que anda a estrangular o norte. Claro que aqui na blogosfera não podemos tomar medidas concretas mas o simples facto de nos manifestarmos e denunciarmos esta vergonha de que temos sido vítimas é importantíssimo. Uma voz é difícil de ouvir mas quando as vozes são muitas e estão em uníssomo nada as abafa. Virei a este blogue com certeza mais vezes e desejo-lhe boa sorte na luta.
Quanto ao Dr. Rui Rio, diz o que é óbvio mas muito baixinho...

Anónimo disse...

Eu não sou portista, mas tal facto não me impede de encarar os factos com seriedade e de os tratar como tal; factos e não convicções. Presentemente tenho que confessar que já não consigo calar a minha revolta e estupefacção pelo momento que atravessa Portugal.

Assistimos, neste momento, ao assassinato social de uma personagem pública, em absoluto frenesim mediático e perante o gozo, finalmente alforrio, de três quartos do país. Pinto da Costa é o seu nome e atrás dele arrasta-se pelo chão o nome do clube a que ele preside – o Futebol Clube do Porto.

Na entrega dos Globos de Ouro, onde o Jesualdo Ferreira recebeu o galardão de treinador do ano, as vaias e apupos que se ergueram só não foram mais explícitas na transmissão televisiva por causa das palmas pré-gravadas; esta reacção fez-me corar de vergonha como se tivesse sido eu o alvo. Perante a audiência das elites mediáticas sufragou-se o nojo do país por tal clube e presidente.

No dia seguinte a um outro espectáculo mediático, este o da leitura da sentença da Liga de Clubes, publicaram-se notícias sobre a perda de sigilo bancário de Pinto da Costa em relação a contas de empresas suas, vítimas de denúncias de Carolina Salgado. Quando o inimigo cai no lodo não se deve cometer o erro estratégico de o deixar levantar; as solas das botas servem para alguma coisa.

Mas afinal qual a causa que levou, finalmente, à condenação, não dos tribunais – que estes são o que sabemos – mas em sede da opinião publica (desportiva?), do homem por causa de quem foi formada a segunda equipa especial de investigação do Ministério Público em toda a história da terceira república em Portugal. Antes desta só uma foi criada e foi-o para investigar um outro fenómeno de "proporções equivalentes": as FP 25 de Abril.

O que está aqui em causa não é se ele é corrupto ou não. Eu disso não sei e se o for não sei se é muito diferente dos que o perseguem, inclusive dos que dirigem o meu clube. O que está aqui em causa são duas acusações específicas, ocorridas numa determinada data, envolvendo determinadas pessoas. Acusações que são o corolário de anos de investigação por parte da mais cara e mais "independente" equipa de investigação em Portugal e que continuamos a pagar como se não houvesse problemas mais graves a resolver neste pais. Por mais que alguns queiram, não se trata de absolutamente mais nada.

Todos os que comentam este caso confessam, em privado ou na televisão, o seu desconhecimento do processo, mas no entanto louvam a coragem da condenação. Como é possível? Que estado de loucura é que nos atingiu?

De certeza que não é por causa das escutas telefónicas que Pinto da Costa será condenado, porque se for, não se compreende por que é que as escutas que mostram Luís Filipe Vieira, João Rodrigues e Veiga a escolher árbitro e pedir favores, e que foram publicados nos mesmos jornais, não deram origem a processos.

De certeza que não é por causa do testemunho de Carolina, porque em qualquer parte do mundo ela não seria considerada uma testemunha credível. Não por causa do seu passado de alterne, mas porque é uma companheira desavinda e com pronunciada e notória intenção de denegrir o antigo companheiro. Para além disso nunca conseguiu apresentar qualquer prova do que afirmou, exibindo apenas testemunhos contraditórios. E testemunhos valem o que valem. Todos podemos dizer mal ou bem de quem nos apetecer.

Pinto da Costa é condenado porque existe uma generalizada convicção de culpa. De que é corrupto e que arquitecta os resultados do clube a que preside à mais de vinte e cinco anos e que portanto este não os merece e que lhes deviam ser retirados. Esta convicção continua a ser uma convicção e não uma certeza, depois do falhanço da toda-poderosa equipa de Morgado em apurar factos novos e emancipados da Carolina. Neste momento a equipa da eminente magistrada investiga transferências de jogadores do FCP e mais recentemente empresas de Pinto da Costa para apurar fugas ao fisco. Tudo com base nas informações de Carolina. Já não se trata de futebol. É a procura de um ponto fraco, do calcanhar de Aquiles. Trata-se de um inimigo que urge abater a qualquer custo. Se doer melhor. Eu nisto não me revejo.

E quem possui, então, esta convicção tão forte que até se confunde com uma certeza? Esta convicção que desmobiliza qualquer interesse sobre aspectos legais ou morais e apenas direcciona para o pelourinho. Os adeptos do Porto não a têm, claro. Têm-na os adeptos dos seus dois clubes realmente rivais, os quais constituem perto de três quartos dos adeptos em Portugal.




E como é possível que massas tão colossais de pessoas tenham crenças tão parecidas ou tão diferentes?

A explicação não me parece difícil. Todos se lembram do campeonato ganho pelo Sporting em 1999/2000? Pois o Sporting chegou ao último jogo com dois pontos de vantagem sobre o Porto, depois de o segundo ter sido "roubado" de uma forma – mesmo eu tenho que admitir - inacreditável, por Bruno Paixão em Campomaior. Os meus amigos portistas ficaram cabalmente convencidos da corrupção desse campeonato que lhes roubou o "Hexa".

No ano seguinte o mundo do futebol escandalizou-se com a benevolência com que o "sistema" permitiu ao Boavista molhar a sopa em praticamente todos os relvados do país, deixando uma esteira de mortos e feridos nas fileiras adversárias.

Em 2001/2002 o Sporting ganhou um campeonato em que os adeptos contrários se indignaram com o número de jogos resolvidos com penaltis. As suspeitas foram como de costume descomunais.

Em 2004/2005 o Benfica arrecadou um campeonato invulgar, pisando com pezinhos de lã o que se convencionou chamar de "passadeira vermelha". Mais uma vez foi grande e generalizada a revolta e a suspeita.

Ora, este curto parágrafo contém a descrição de todas os campeonatos ganhos por equipas adversárias do Porto desde 1994 e isto é que constitui o cerne do problema. Basta aplicar a fórmula explicada em cima para se perceber o porquê do ódio ao Porto e da convicção, por parte dos adversários, da sua culpa e da do seu presidente que tem permanecido o mesmo.

Neste país ninguém ganha por merecimento. Tudo ganha na batota. Ganhasse o Porto dois campeonatos por década e era um clube simpático e o presidente um tipo culto que até declama poesia, passe a pronúncia.

É claro que existe corrupção no futebol. Ninguém é ingénuo. No futebol e na politica, nas modalidades amadoras e sociedades recreativas. A corrupção existe onde existem interesses. Nas mesas de café, por entre cervejas e tremoços, os amigos e conhecidos repartem amigavelmente estas histórias e convencimentos, riem-se do golo que marcaram com a mão e ofendem-se com a vista grossa feita à bola que bateu em pelo menos 15% do ombro e portanto deveria ser penalti.

Falta apenas o catalisador de todas estas energias, positivas e negativas e o catalisador são os media. No momento em que escrevo este texto não sei quantas pessoas o vão ler, mas se o fizer na televisão sei que vai ser escutado por milhões. Os dirigentes dos clubes que não ganham o suficiente, ou então velhas comadres desavindas, extravasam os seus ódios e dissimulações nos meios de comunicação e catalisam todas as frustrações dos adeptos que conduzem da mesma forma que os políticos gerem os povos nos comícios e mesas de voto.

Temo que o processo tenha ido longe demais e apenas a justiça civil tenha oportunidade de repor o estado de direito que permanece na aparência mas que foi suspenso de facto. Nesta sociedade, quem acusa tem que provar, não o contrário. Nesta sociedade, perante a justiça, causas iguais originam processos iguais. Não pode haver descriminação. Não pode haver perseguição.

Aquilo que está aqui em causa é apenas demonstrar se os dois acontecimentos de que Pinto da Costa é acusado são provados ou não. O resto é política, mediatismo ou clubite.

Quando a chacina de uma pessoa por causa de campeonatos ou outra coisa tão mesquinha como esta, é permitida - gostemos da pessoa ou não da pessoa, e eu não gosto - mais vale passarmos mudarmos de vida. No fim, o trago será sempre amargo. Assim não vale a pena.

# autor desconhecido