quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Porto sem valores

O Salgueiros aluiu. Depois, O Comércio do Porto fechou. Agora é a vez do Boavista baquear num poço sem fundo à vista, enquanto que mais um título centenário, o Primeiro de Janeiro, vê o seu fim anunciado.

São apenas empresas, dir-me-ão. O mercado liquida umas e logo outras ocuparão o seu espaço, garantem-me amigos ainda mais liberais do que eu. Não estou de acordo – estas quatro instituições são emblemas do nosso imaginário, são referências de uma região. Cada uma, à sua maneira, ajudou a fazer-nos como somos, a perceber o Mundo da forma universalmente ‘portocêntrica’ que ainda é timbre de muito boa gente. Quando os símbolos morrem, todos os que neles estamos revelados, murchamos um pouco também.

Mas o que mais me dói é a apatia em que tudo isto se deu. A indiferença veio, sobretudo, de cima, daqueles que adoram fazer uma interpretação limitada da sua missão estratégica nesta região e que ficaram bem mais pequeninos ao ignorarem dimensões básicas do nosso colectivo.

Mas a população da região do Porto manteve-se em estado de inércia, igualmente, perante a ruína destas quatro instituições. O Porto não costumava ser assim. Mas a perda das referências dá sempre nisto – o Porto esquece a diferença que sempre o fez e torna-se igual à mesmice do resto do País.

(Por Carlos Abreu Amorim na Grande Porto TV - secção de "opinião" em 4-08-2008)

1 comentário:

José Fernando Magalhães disse...

Concordo totalmente com o texto...
Lamentàvelmente estamos desleixados e vendidos....
Fazem-nos falta "gajos do carago", como os de antanho.
Mas eu sei que os há ainda....por onde andarão?