O problema não é Lisboa ( 2 )
Caros bussolistas !
Como o prometido não é de vidro aqui fica o segundo fascículo do texto do meu amigo Manuel Cerqueira Gomes que tenho a certeza que vão continuar a gostar. Os que pensam como nós , claro, porque os outros já se sabe que vão continuar a ladrar....
A MENTIRA EM QUE VIVEMOS
Acho, muito sinceramente, que vivemos num país de mentira permanente.
Existe uma capital que ainda olha para o seu umbigo como capital do Império.
Criadora de burocratas.
Que usa os recursos de todos nós para se promover.
Tudo aquilo que de importante se passa neste país, por decisão dos burocratas, tem de passar pela capital.
Mega construção do Centro Cultural de Belém nos finais dos anos 80, princípio dos anos 90.
Lisboa capital europeia da cultura em 1994.
Expo 98 Lisboa, onde se fizeram obras estruturais que foram pagas por todos nós. Como por exemplo o pavilhão Atlântico que agora serve de palco aos grandes eventos do mundo do espectáculo.
Em 2001, porque Lisboa não podia repetir, tivemos a capital europeia da cultura no Porto, embora “a meias” com Roterdão.
Já se fala numa candidatura aos Jogos Olímpicos de Lisboa de não sei quando. Isto porque, pelo que me disseram, só o facto de haver a candidatura obriga a que se façam uma série de obras prévias.
A capital (mais precisamente a zona de Oeiras) candidatou-se àquilo a que se chama a fórmula 1 dos barcos. Que iria obrigar a avultados investimentos na zona marginal que, por certo, não iriam sair do orçamento da Câmara Municipal de Oeiras.
O Senhor Primeiro-ministro inaugurou há pouco tempo o Museu Berardo, em Lisboa, regozijando-se com o facto pois, até aí, segundo ele, em matéria de arte contemporânea, só havia Madrid, esquecendo-se, de forma imperdoável, do Museu de Serralves no Porto.
O autódromo do Estoril, onde se fazem os grandes eventos automobilísticos, está na zona da grande Lisboa.
A final da Taça dos Campeões Europeus de 1967 entre o Inter de Milão e o Celtic foi no então Estádio Nacional em Lisboa.
A final do campeonato do Mundo sub 21 em futebol foi em Lisboa.
A final do Campeonato da Europa de 2004 de futebol foi em Lisboa.
A final da Taça UEFA de 2005 em Lisboa.
No resto do país não houve qualquer final importante.
Bom, mas há quem diga que muitos dos grandes eventos são feitos na zona de Lisboa pela iniciativa particular. O Estoril Open; o próprio autódromo do Estoril. Mas o problema é sempre o mesmo. O centralismo obriga a que a maior parte das pessoas válidas do país vão viver para Lisboa. Onde constituem família e por lá ficam.
Quem é que, não ouviu já falar de coisas deste género – “agora se quiser subir mais na estrutura (do banco, ou da empresa) tenho de ir para Lisboa”. Não é assim, Júlio Magalhães?
Até o raio do Tratado tinha-se que chamar de Lisboa… Neste particular lembrei-me logo de Nice e de uma belíssima terra na Holanda que se deu a conhecer ao mundo porque deu nome a um grande Tratado – o de Maastricht.
Assusta-me a falta de visão global do país por parte das pessoas que nos têm governado!
Os burocratas de Lisboa mais parecem aqueles meninos caprichosos e mal-educados que têm sempre de ter os melhores brinquedos, esquecendo-se de os repartir, tanto mais que aqueles que deveriam ser contemplados com a repartição são, afinal, seus irmãos.
Mas enquanto durou a presidência portuguesa da UE, lá foram os ministros fazer umas reuniões pelo país fora, para calar as gentes da província.
Mas o Tratado, esse, jamais se chamaria de Guimarães, ou de Braga, ou de Faro, ou do Funchal.
Tinha de ser de Lisboa.
Tanto provincianismo têm os burocratas de Lisboa…
Alguns vêm dizer que o País é muito pequeno pelo que é natural que tudo se concentre em Lisboa…
Só que,
É unanimemente reconhecido que Portugal é o um dos países mais centralizados na UE.
Lisboa, embora sendo a capital, é apenas uma cidade entre muitas outras do país, inserida numa região/zona entre muitas outras.
Falta uma voz política que se faça ouvir e que ponha tudo isto a nu.
Que interpele o governo central.
Que exija que este evento, aquela obra, ou aquele empreendimento, venha para o Norte ou para qualquer outra zona do país.
Que, concertadamente com os banqueiros do Norte, nomeadamente com aqueles que fundaram os dois maiores bancos pós 25 de Abril, batam o pé e exijam que a bolsa de valores fique no Porto (olhem, por exemplo, para Frankfurt e para Milão), ou pelo menos que também fique no Norte.
Que ajude a criar condições para as sedes dos bancos e seguradoras, que muitas delas historicamente são do norte, tenham efectivamente as administrações, os departamentos de estudo e os principais quadros no Norte.
Que proteja os empresários do Norte.
Mas que também lhes peça explicações quando estes vão anunciar a um hotel de Lisboa um grande negócio, quando o deveriam fazer num hotel do Porto, ainda que só tivessem presentes os jornalistas do JN, do Comércio do Porto e do Primeiro de Janeiro.
Que articule com as Universidades e as empresas os meios necessários para criar uma grande escola de negócios no Norte, impondo-se quando algumas pessoas, por pequenas questões de vaidade, entopem o processo.
É que há situações incompreensíveis neste país.
Por que raio é que ainda há pessoas do norte que acham bem ir tratar de assuntos a Lisboa?
Serão masoquistas?
Porque raio não podemos tratá-los no Norte?
Porque razão é que há grandes empresas do Norte que têm as sedes operativas no Sul?
É mais barato?
Porque razão, tendo nós no Norte os 2 maiores empresários pós 25 Abril, é que um nortenho que tira um curso relacionado com publicidade tem de ir para Lisboa?
Se os 2 maiores grupos privados portugueses pós 25 de Abril são do Norte porque é que não há grandes empresas de publicidade no Norte?
Não me digam que é porque no Sul podem fazer anúncios no Guincho!
Façam-nos na praia “Emília Barbosa”, ou noutra qualquer de Matosinhos, na Foz ou em Leça, ou então nesse maravilhoso vale do Douro…
Ouvi, outro dia no Porto Canal uma entrevista com um afamado estilista nortenho que dizia que o grande acontecimento de Moda do nosso País é, PASME-SE, a Moda Lisboa.
Se isto continuar assim, qualquer dia ainda levam o Museu do Vinho do Porto para Lisboa. Acho que já faltou mais…
Olho para o nosso País e sinto-me envergonhado com este centralismo.
Mas quando constato o que se passa aqui ao lado ainda mais revoltado fico.
Manuel Cerqueira Gomes
Exército de Salvação Nacional
Batalhão Bússola
Pelotão de Co Produção
Manuel Serrão
(No blogue "http://bussola.blogs.sapo.pt/" em 15-03-2008)
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