quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Com afecto Sem açúcar

Eu não sei, não faço mesmo a menor ideia, onde é o que o Governo se inspira para tomar determinadas decisões, mas sei – tenho a certeza absoluta – de que não quero lá estar!Mas daqui, deste lugar, desta cidade que é Invicta, Nobre e Leal e neste espaço de um jornal que este ano completa 140 anos, manifesto a minha indignação pela mais recente medida governamental.

Pagar o aumento extraordinário de 2,14 por cento das pensões dividindo-o por todo o ano de 2008, só pode ser ter sido decretado por quem está bem na vida, não vai ao mercado ou supermercado, não paga transportes públicos, tem amigos médicos e farmacêuticos que lhes facilitam consultas e medicamentos “pro bono” – ou seja não ganha 300 euros de pensão pelo que não vai receber 70 cêntimos, (repito por extenso e em caixa alta: SETENTA CÊNTIMOS) mensais correspondentes àquela matemática…!

Não tenho pretensões a que o senhor Primeiro-Ministro e ilustres Ministros, Secretários e Sub-Secretários de Estado, Adjuntos e Assessores e Adjuntos de Adjuntos e Assessores de Assessores, leiam tudo o que eu escrevo (até porque às vezes também me saem umas irritantes gralhas…).

Mas, confiante de que os que têm como tarefa recortar a imprensa para o Governo passem de quando em vez uma vista de olhos pelo JANEIRO, (também estamos on line em www.oprimeirodejaneiro.pt) aqui fica o pedido de terem a amabilidade de incomodar o senhor Primeiro-Ministro José Sócrates com esta minha informação:

Com 70 cêntimos compra-se:

Em Janeiro – seis ou sete pães (em Lisboa papos-secos)
Em Fevereiro – um rissol
Em Março – um litro de leite
Em Abril - um bolinho de bacalhau
Em Maio – um quilo de arroz
Em Junho – um quilo de massa cotovelinho
Em Julho (recebem 1 euro e quarenta cêntimos) dá para um café e um pãozinho com manteiga, que é para comemorar!!!
Em Agosto – um iogurte (ou dois se estiverem em promoção e forem vendidos individualmente, o que normalmente não acontece…)
Em Setembro – um quilo de açúcar
Em Outubro – um croquete
Em Novembro – um pastel de nata e um café que é para comemorar o aumento no subsídio de Natal – sempre é 1 euro e quarenta cêntimos!!!
Em Dezembro – uma garrafa de água gaseificada que é para ajudar à digestão!!!

Claro que é necessário que estas compras sejam feitas com “conta peso e medida” e só em locais onde se pratiquem os preços mais baixos dos baixos.

Diz o Governo que esta medida é para beneficiar os pensionistas!!!Tenho para mim que o Governo de José Sócrates tem razão: os pensionistas iam ter uma congestão com os 15 euros de uma vez só!

Lá teríamos as urgências dos hospitais, que já quase não há, a serem invadidas com estes novos doentes! Pois que já se sabe que de 300 euros para 315, assim de repente, pode provocar um AVC de emoção!

Seria assim tão complicado pagar de uma só vez a quem recebe menos e deixar as prestações para os que usufruem de pensões superiores e mil euros?

Não peço “imaginação ao poder” porque está à vista que imaginação não lhe falta, mas peço que aceitem a minha indignação!

_____________________

Nota editorial

Assim, sim, senhor primeiro-ministro

Reconhecer os erros é um sinal de inteligência e bom senso.
O Governo decidiu voltar atrás na medida que apontava para o pagamento faseado em 14 meses dos aumentos das pensões, pelo que agora já anunciou que o pagamento vai ser na sua totalidade “na primeira oportunidade”.
Pois que decidiu muito bem. Legalmente bem!
Ontem escrevi a minha indignação.
Hoje seja-me permitida alguma satisfação pela decisão certa do Governo.
Que os pobres, os velhos, os doentes, os mais carenciados não podem estar sempre na linha última das prioridades.
Porque não têm poder reivindicativo, que é dado pelo dinheiro e pelas diversas influências, os que mais precisam devem ser tratados com toda a dignidade e respeito!
Não sei se uma das razões que levou a esta “emenda de mão” foi a notícia da situação vergonhosa que Almerindo Marques encontrou na Estradas de Portugal, com gente a gastar 10 mil euros por mês em combustível, 800 carros para 1.800 funcionários e gastos de seis milhões de euros anuais em combustíveis. Não vou hoje especular mais esta situação de despesa descontrolada de dinheiros públicos.
O que deveras interessa hoje é que os pensionistas vão poder receber o parco aumento, que vai dos 13 aos cerca de 24 euros, de uma só vez, como manda a lei, o bom senso e o respeito pelos direitos mais elementares dos cidadãos.
Assim, a minha indignação incontida de ontem, dá lugar a uma palavra de agrado e de reconhecimento também em nome dos que esperam que a comunicação social se mantenha atenta ao que parece serem pequenas coisas – coisas de…cêntimos!


(Por Nassalete Miranda no "O Primeiro de Janeiro" em 10-01-2008)

Sem comentários: