Por Fernando dos Santos Neves * no "Jornal de Notícias" de 7-10-2207
Apropósito do festival aéreo organizado conjuntamente pelas Câmaras Municipais de Porto e de Gaia, poderá ter-se gostado mais ou menos do próprio espectáculo das "máquinas voadoras" e de todo o circo mediático algo bizarro que o acompanhou, mas é impossível não se regozijar com o facto de que, pela primeira vez, os actuais presidentes do Porto e de Gaia se aliaram na aceitação e na realização do óbvio e do inevitável que é a unidade histórica, demográfica, económica, turística, paisagística, etc., das duas margens do rio Douro onde, segundo o Poeta, "como é fama, origem teve o nome eterno de Portugal...
Desde há muito que, também eu, tenho chamado a atenção para esse tal "óbvio inevitável", cuja falta de aceitação e de realização está a condicionar da maneira mais negativa e mais provinciana o presente e o futuro do Porto, do Norte de Portugal e de todo o Noroeste Peninsular. A própria "Regionalização", de que agora se volta a falar, já chegará tarde e a más horas; a presente "Hora da Regionalização" é já a "hora" de outra regionalização, não de Portugal, mas da Europa/Ibéria (por esta ordem!) e da Lusofonia/Espaço(s) Lusófono(s). É neste sentido que fará cada vez mais sentido, ao contrário até do que Saramago parece pensar e desejar, a frase para muitos ainda escandalosa e certamente provocadora "Portugal e a Espanha acabaram, viva a Europa e a Lusofonia!".
E a "Hora" desta regionalização "europeio-ibérica" e "lusófona" será também necessariamente a "Hora do Porto", a "Hora do Portucale"! Além do mais, como recorrentemente tenho escrito (em público e em privado!), será a única, uma vez mais, óbvia e inevitável maneira de o Porto se tornar numa grande cidade múltipla (Porto, Gaia, Matosinhos, Gondomar, Maia...), deixando de ser uma cidade pequena (Porto) ao lado de todas aquelas outras pequenas cidades, ridiculamente se digladiando na sediação de movimentos cívicos, teatros, exposições, estádios, etc. Ninguém pensou, por exemplo, no caso de Paris (para não falar no ainda mais simples caso de "Buda-Peste"...) com a sua grande "MAIRIE" (Câmara de Paris) e as suas numerosas pequenas "mairies" (a que no nosso caso correspondem as câmaras de Porto-Centro, Porto-Gaia, Porto-Matosinhos, Porto-Gondomar, Porto-Maia...)? Ou já não haverá ninguém capaz de pensar e agir à grande, capaz de pensar e agir à Porto, capaz de pensar e agir à Europeia e à Lusófona, capaz de pensar e agir "glocalmente"? Onde está o "bairrismo anti-provinciano" de que gostava de falar Sophia de Mello Breyner e o "bairrismo cosmopolita" de que ultimamente tem falado o jornalista Carlos Magno?
Agrada-me sobremaneira realçar este embora pequeno passo dos dois presidentes do Porto actual e da actual Gaia; à semelhança dos astronautas sobre a Lua e guardadas as devidas proporções, pode haver pequenos passos de homens individuais que signifiquem passos enormes das sociedades humanas!
Como também escrevi em "Os 10 Mandamentos ou as 11 Teses de e sobre o Porto", até aqui já se fizeram quase todas as retóricas imaginárias sobre o Porto; mas o que é preciso é efectivamente transformá-lo na metrópole moderna, desenvolvida e ecuménica como tem de ser a Capital Europeia e Lusófona de todo o Norte de Portugal (pelo menos desde Coimbra) e de todo o Noroeste Peninsular (incluindo a Galiza e alguns arredores)!
Poderá parecer exagerado mas, por todas as razões explicitadas e sobretudo pelas implícitas e simbólicas, não me coíbo de gritar
Parabéns, Porto-Gaia!
Parabéns, Portucale!
No momento crepuscular dos velhos estados-nações, os "glocais" portucalenses europeus e lusófonos agradecem!
* Reitor da Universidade (Euro) Lusófona
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