quarta-feira, 31 de outubro de 2007

O erro fatal do voo TP 653

No dia 6 de Agosto, o comandante do voo TP 653 tomou uma decisão cujos danos para TAP ainda não são totalmente conhecidos, mas que espero sejam muito elevados.

Como partiu de Amesterdão com duas horas de atraso, o comandante achou por bem agir como um pirata do ar fardado e desviou do Porto para Lisboa o destino do voo TP 653, argumentando que assim evitaria à companhia o prejuízo da anulação de um voo Lisboa-Paris.

Como contribuinte, acho preocupante que a estatal TAP se tenha dado ao luxo de fazer ao GES o jeito de lhe comprar, por 140 milhões de euros, a Portugália, que não fosse nacionalizada teria de fechar as portas.

Como cidadão, acho ultrajante a cultura de falta de respeito pelos passageiros que leva um comandante da TAP a mudar uma rota para poupar uns cobres à companhia.

Como portuense, sinto-me insultado porque sei (sabemos todos), que nem sequer passaria pela cabeça do infeliz comandante desviar, por razões económicas, um voo de Lisboa para o Porto.

A suprema infelicidade do comandante residiu no facto da equipa do FC Porto seguir a bordo do TP 653 e de os dirigentes portistas não serem gente para se acanhar quando suspeitam que há motivo para protestos.

O voo TP 653, que era suposto aterrar no Sá Carneiro às 16h10, aterrou em Lisboa às 18h30, e os passageiros com destino ao Porto, deficientemente informados e muito justamente mal dispostos, acabaram transferidos para um avião com mais passageiros do que lugares.

E como se o caldo ainda não estivesse suficientemente entornado, o comandante caprichou aom mandar prender o chefe da comitiva portista, por este, no seu entender, se ter excedido nos protestos.

Este episódio é revelador da falta de respeito da companhia pelos seus clientes, em particular pelos nortenhos. O menosprezo da TAP pelo Porto já é antigo e manifestou-se por anos a fio de desinvestimento, acabando com voos directos a partir do Sá Caneiro para concentrar na Portela (o tal aeroporto que está saturado) o essencial das suas operações.

A TAP já começou a pagar por esta sua arrogância centralista. Quando não há voo directo para o seu destino, nove em cada dez homens de negócio do Norte preferem fazer a escala em Frankfurt (os alemães aproveitaram o espaço deixado livre pela TAP para aumentarem as suas ligações diárias ao Porto) do que em Lisboa.

Penalizada pelos lugares de destaque que alcançou nos rankings internacionais da perda de malas e atrasos, a TAP iniciou uma campanha de lavagem da sua imagem. Da cartola, ainda só conseguiu tirar dois coelhos, ambos anémicos.

Anunciou com foros de notícia de primeira página, a inauguração de ligações directas do Porto a Bruxelas e Roma. Esqueceu-se de acrescentar que estas rotas se destinam a aproveitar os Fokkers que herdou da Portugália.

Para se calibrar a importância destas duas novas, basta ver que só a Ryanair vai abrir até ao fim do ano cinco novo voos directos do Porto para Pisa, Estocolmo, Valência, Bristol e Milão.

As migalhas dos voos para Bruxelas e Roma não me comovem. Por isso apoio o boicote portista. Voar na TAP, só mesmo quando não tiver alternativa.

(Por Jorge Fiel no blogue "http://bussola.blogs.sapo.pt/" em 31-10-2007

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