Os cronistas, jornalistas, bloguistas e quejandos podem já desistir do chavão "derrapagem da Casa da Música", quando quiserem falar do descontrolo das contas públicas. Encham lá a boca com 134 milhões de euros. É grande não é? E nem sequer é bonito como a Casa da Música, que teve muito de suborçamentação nos polémicos 100 milhões de derrapagem. Este não foram contas mal feitas, foi mesmo asneira da grossa e abre antes do Natal, como prenda no sapatinho dos contribuintes. Chama-se prolongamento do Metropolitano de Lisboa até Santa Apolónia e o grande buraco orçamental aconteceu com a inundação daquela que será a Estação do Terreiro do Paço, em 2000. Com candura, o presidente do metro lisboeta já explicou que para estes 10 anos de atrasos não há culpados, tudo se deveu a causas naturais "os cursos de água mudaram por motivos ainda desconhecidos", explicou. Desconfio que desconhecidos irão ficar.
Os números finais deste descalabro público foram conhecidos na terça-feira. Sentiram alguma comoção? Não, foi como se não existissem. E, no entanto os 134 milhões da derrapagem do Terreiro do Paço dariam para pagar a ligação do Dragão à Venda Nova, servindo Gondomar (85 milhões) e ainda sobravam uns trocos. A empreitada toda da ligação a Santa Apolónia, (299 milhões), é aliás quase tanto quanto custaria a a ligação da Casa da Música a Laborim, uma obra que implicaria a construção de mais uma ponte sobre o rio Douro (323 milhões). Nada disto causa espanto quando se sabe que o metro de Lisboa custa o dobro por quilómetro do metro do Porto e rende metade, ou quando impávido e sereno o metro da Margem Sul continua a circular vazio ao preço de 15 mil euros por dia cobrado aos contribuintes. É obviamente muito mais fácil falar da derrapagem da Casa da Música ou da má gestão dos autarcas do Porto. Isso é que interfere com o conforto das gentes da capital.
(Por David Pontes no "Jornal de Notícias" de 12-10-2007)
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